terça-feira, 3 de novembro de 2009

Crença

Em filosofia, mais especificamente em epistemologia, crença é um estado mental que pode ser verdadeiro ou falso. Ela representa o elemento subjetivo do conhecimento. Platão, iniciador da tradição epistemológica, opôs a crença (ou opinião - "doxa", em grego) ao conceito de conhecimento.

Uma pessoa pode acreditar em algo e, ainda assim, ter dúvidas. Acreditar em alguma coisa não torna nada verdadeiro. É necessário evidências reais para as suas afirmações, sem essas qualquer esperança em "achismo" é infudada.

A crença é a certeza que se tem de alguma coisa. é uma tomada de posição em que se acredita nela até ao fim. sin: convicção, fé, conjunto de idéias sobre alguma coisa, etc. Atitude que admite uma coisa verdadeira.


Metafísica da crença

Quando uma pessoa acredita em alguma coisa, no que ela acredita? Algo pode ser apontado como o objeto da crença?

Alguns filósofos diriam que sim. Para Frege, aquilo no que acreditamos é uma proposição. Para outros, como Ryle, Davidson e Fodor, aquilo no que acreditamos é uma frase (ou sentença).

Proposições são entidades abstratas. Frases são construções concretas. As diferenças entre tais tipos de entidades levam a diferenças nas respectivas teorias que as apontam como objetos da crença.

A teoria proposicional tem a vantagem de explicar como pessoas que se expressam em diferentes línguas podem compartilhar uma crença. Segundo tal teoria, o português que afirma sinceramente "O céu é azul" e o inglês que afirma sinceramente "The sky is blue" estão expressando, nas suas respectivas línguas, uma mesma proposição abstrata. Como uma mesma entidade abstrata é o objeto da crença de ambos, ambos compartilham a mesma crença.

Todavia, tal teoria tem a desvantagem de utilizar um elemento misterioso na explicação. O elemento explicador, a "entidade abstrata", não é ele mesmo explicado. Isso nos leva a buscar um explicador mais pedestre.

Tal tipo de explicador é apresentado na teoria frasal da crença. Frases são entidades observáveis e reconhecíveis.

Todavia, a teoria frasal tem a dificuldade de não explicar o caso das pessoas que se expressam em diferentes línguas mas compartilham as mesmas crenças. Eis o problema: dado que "O céu é azul" e "The sky is blue" são diferentes frases, como podem o português e o inglês compartilharem a mesma crença?

Os defensores da teoria apresentam como solução o apelo a uma linguagem do pensamento (mentalês) que seria comum aos falantes de ambas as línguas.

Mas essa solução é tão inexplicada quanto o apelo às entidades abstratas. A questão permanece em aberto.

Epistemologia da crença

Uma questão fundamental sobre a epistemologia da crença é diferenciar o modo como cada um conhece suas próprias crenças do modo como cada um conhece as crenças dos outros.

A primeira pessoa conhece suas próprias crenças de maneira imediata.

O conhecimento das crenças da terceira pessoa não é imediato. É inferencial. É apoiado na observação do comportamento da pessoa.

Normatividade

A meta da crença é a representação do mundo. A norma para a crença é que devemos acreditar no que é verdadeiro:

"[...] a evitação de contradição é interna ao próprio conceito de crença, dado que é interno à crença destinar-se a representar o mundo." (Richard Moran, "Replies to Heal, Reginster, Wilson, and Lear", p. 472 (em Philosophy and Phenomenological Research, volume LXIX, número 2, setembro de 2004, páginas 455-472)

Crenças de "Re" e de "Dicto"

Podemos ter uma crença "de" ou "sobre" alguma coisa, ou acreditar "que" certo estado de coisas é o caso.

Uma crença sobre alguma coisa é chamada de "crença de re". Acreditar que certo estado de coisas é o caso é ter uma "crença de dicto".

Crenças de "Re" são "abertas". O objeto do qual se tem a crença faz parte da crença.

Crenças de "Dicto" são "fechadas". Se acredita em certo estado de coisas apresentado proposicionalmente. (Cf. Escopo)

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